Novos dados do acesso aos cuidados de saúde em tempos de pandemia
- Contactos médicos presenciais nos centros de saúde com redução de 30% entre 2019 e 2021
- Menos 18% de mulheres com mamografia realizada, menos 13% de mulheres com colpocitologia atualizada e menos 5% de utentes com rastreio do cancro do colon e reto efetuado
O Movimento Saúde em Dia apresentou novos indicadores sobre o acesso ao SNS em tempos de pandemia, a partir de uma análise feita pela MOAI Consulting para a Ordem dos Médicos, Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e Roche.
Esta análise, com base nos indicadores oficiais do Portal da Transparência do SNS e do Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários, indicia que a atividade em 2021 está a ser insuficiente para recuperar o que ficou por fazer durante a pandemia.
A título de exemplo, muitos cancros continuam por identificar, dada a redução de rastreios nos casos do cancro da mama, do colo do útero e do reto.
Perante os dados disponíveis da atividade até setembro deste ano, a MOAI Consulting desenvolveu uma projeção do que deverá ser a realidade até ao final de dezembro.
Destacamos algumas das principais conclusões:
- Menos 18% de mamografias realizadas; menos 13% de rastreios ao cancro do colo do útero e menos 5% de rastreios ao cancro do colon e do reto;
- A incidência do cancro da mama reduziu-se, entre 2020 e 2021, em 2%, depois da diminuição de 19% entre 2020 e 2021; a incidência do cancro do colo do útero baixou 15% (25% entre 2020 e 2021) e da neoplasia do colon e reto decresceu 9% (22% entre 2020 e 2021). Os dados sugerem que muitos casos de novos cancros ficaram por identificar durante os anos de pandemia;
- Contactos presenciais médicos nos centros de saúde com redução de 30% em 2021, quando comparado com 2019, correspondendo a menos 6,1 milhões de contactos presenciais;
- Menos 2,8 milhões de contactos com Cuidados de Saúde Hospitalares (consultas presenciais, cirurgias programadas e episódios de urgência graves) não realizados em 2020 e 2021 comparativamente com 2019;
- As consultas hospitalares e a cirurgias mostram um aumento em 2021 face a 2020, mas ainda insuficiente para recuperar o que ficou por realizar durante a pandemia;
Consulte aqui a apresentação feita pela MOAI.
Primeiro ano de pandemia: o impacto no acesso aos cuidados de saúde
Menos 46% de consultas médicas presenciais nos centros de saúde, uma quebra de 40% da procura das urgências hospitalares e menos 25% de cirurgias realizadas. Estes são alguns dos resultados do impacto do primeiro ano da pandemia em Portugal.
A análise foi feita pela consultora MOAI para o Movimento Saúde em Dia e parte de dados públicos do Serviço Nacional de Saúde, comparando março 2020/fevereiro 2021 com março 2019/fevereiro 2020.
Muitas patologias foram afetadas pela pressão exercida pela pandemia no sistema de saúde.
A diabetes é um desses exemplos. O índice de acompanhamento da diabetes caiu 28%.
Os utentes inscritos com diabetes com exame dos pés realizado reduziram-se 34%, com menos 210 mil exames feitos no primeiro ano da pandemia. Também a proporção de doentes diabéticos com exame oftalmológico teve uma quebra de quase 20%.
A análise da MOAI mostra ainda uma fortíssima restrição nos meios complementares de diagnóstico e terapêutica.
Foram realizados menos 29 milhões de atos no primeiro ano de pandemia, um abatimento de 30% em relação ao período homólogo anterior.
Relativamente ao programa de rastreios oncológicos nos cuidados de saúde primários, registaram-se menos 21% de mulheres com registo de mamografia nos últimos dois anos (menos 169 mil), menos 12% de mulheres com colpocitologia atualizada (menos 140 mil) e menos 7% de utentes inscritos com rastreio do cólon e reto efetuado (menos 125 mil).
Consulte AQUI todos os dados analisados pela MOAI.
O impacto da pandemia Covid-19 e as medidas de recuperação necessárias
O Movimento Saúde em Dia apresentou publicamente o estudo “O impacto da pandemia COVID-19 e as medidas de recuperação necessárias”. Esta análise, realizada pela GFK, resultou de inquéritos a médicos de Medicina Geral e Familiar e a médicos de Medicina Interna, bem como a doentes crónicos, associações de doentes e utentes do SNS em geral.
Destacam-se alguns dos indicadores obtidos pelo estudo:
- Quase dois terços dos médicos consideram que os doentes não-Covid foram profundamente impactados pela pandemia;
- Metade dos médicos considera que a qualidade dos atos clínicos realizados foi muito/extremamente afetada;
- 4 em cada 10 doentes crónicos sentiram um agravamento da sua doença. Destes, 21% não procuraram cuidados médicos.
Consulte AQUI a apresentação do estudo da GFK que decorreu na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa.